Vamos falar sobre a vacinação em
gatos que, ao contrário do que muitos proprietários imaginam e as vezes por
falta de orientação até mesmo do médico veterinário, os gatos devem ser
vacinados não somente contra raiva mas também contra outras doenças mais comuns
que afetam os felinos. Vamos falar um pouco sobre essas doenças para se entender
melhor a importância da vacinação:
Doenças do complexo respiratório
felino:
É muito comum vermos gatinhos
resfriados e com conjutivite!
Pois é! Essas doenças são causadas por vírus, ou bactérias,
e podem ser amenizadas pela vacinação!
Essas doenças são a rinotraqueite,
calicivirose e clamidiose.
A Rinotraqueíte é uma doença causada pelo herpesvírus felino que, assim como no ser
humano, uma vez exposto ao agente (o Herpesvirus1) o individuo será sempre portador
da doença e assim qualquer fator de estresse que cause imunossupressão (baixa
da imunidade) poderá desencadear os sintomas da doença e a transmissão do
agente.
O herpesvirus 1 nesses
animais se instala nas mucosas nasal, traquéia e conjuntiva ocular; Portanto, a
transmissão se dá pelas secreções do animal doente.
As condições que podem
fazer com que a imunidade do animal caia são estresse fisiológico, como cio por
exemplo, infestação de parasitas como pulgas e verminoses e outras doenças concomitantes.
A doença tem um curso médio 2 a 4
semanas e os sinais clínicos são secreções nasais e oculares (Figura 1),
espirros, tosse e conjuntivite. Se não tratados podem evoluir para pneumonia secundária, necrose das vias aéreas e úlcera de córnea. A imunidade materna
dura pouco o que leva os filhotes doentes a uma alta taxa de mortalidade.
Figura 1 - Gato com secreçao nasal purulenta associada a doença do trato respiratorio superior felino. |
A Calicivirose é uma doença altamente contagiosa causada pelo Calicivírus felino. Apresenta,
além dos sinais clínicos semelhantes aos do herpes vírus, uma grave estomatite
(figura 2:1 e 2:2), aonde o animal
apresenta úlceras na boca e salivação. O vírus está ,nos animais
contaminados, presente nas mucosas oral, nasal, conjuntiva ocular e ainda nos pulmões
dependendo do seu sub tipo.
Observamos que, uma vez que o vírus está presente em vias aéreas e
olho, os sinais clínicos serão inflamação destes locais. Vale lembrar que um
tecido inflamado, seja ele em olho, pulmão, boca ou nariz vai ter alterações
que predispõe a infecções bacterianas secundárias oportunistas que complicam
ainda mais o quadro clinico do animal.
Figura 2:1 - Estomatite associada a calicivirose felina. | Notar as úlceras, glossite, palatite. |
Figura 2:2 - Notar as severas ulceras em lingua. |
A Clamidiose é uma doença causada por uma bactéria: Chlamidophila felis , que também é uma Zoonose tendo portanto a capacidade de infectar seres
humanos. O agente desta doença está presente mucosa ocular, logo as secreções
oftálmicas estão contaminadas com este agente sendo a via de transmissão da
doença. Da mesma forma, os anticorpos maternos protegem pouco os filhotes.
Os sinais clínicos são, alem de sinais oftálmicos (secreção,
quemose e conjutivite, Figura 3) secreção nasal e espirros. Sinais que também
podem se complicar se não tratados.
Figura 3- Paciente com hiperemia conjuntival (vermelhidão), e quemose evidente indicativo de conjuntivite. |
Panleucopenia felina:
Doença causada
pelo Parvovirus felino, semelhante a parvovirose dos cães (doença que em cães
causa diarréia com sangue). É uma doença que afeta o sistema neurológico de
gatos filhotes em decorrência da contaminação das fêmeas prenhes. Em filhotes
causa também diarreia, mas não hemorrágica devido a diferença da flora
intestinal de cães e gatos. Os animais doentes podem apresentar vômitos que
resultam em desidratação e dores abdominais. Dependendo da época da infecção da gata prenhe, pode haver aborto ou hipoplasia cerebelar dos filhotes, sendo
esta última o não desenvolvimento do cerebelo do animal, responsável pelo equilíbrio, e coordenação motora. Uma fêmea prenhe infectada pode não
apresentar nenhum sintoma da doença entretanto os tecidos fetais podem ser
comprometidos.
A trasmissão é alta e se dá por
animais e ambiente contaminados. O vírus é altamente resistente ao ambiente podendo sobreviver por 5 até 13 meses. A doença é grave
em filhotes e animais com imunidade comprometida. A imunidade materna dura ate
3 meses de idade, desde que o filhote tenha ingerido o colostro materno.
Leucemia viral felina:
Doença extremamente grave causada por um retrovírus felino. Devido a complexidade, e gravidade da doença, esse tema merece ser discutido em um post a parte.
Para resumir: o vírus pode se instalar na medula óssea e levar a um quadro
de leucemia ou ao desenvolvimento de linfoma, ambos resultando na morte do animal. Pode ser transmitida através de
contato continuo com gatos doentes, mordidas, transfusão de sangue e por via
intra uterina e leite da mãe para os filhotes.
É importante testar os animais para essa doença antes de proceder com a
vacinação e somente vacinar animais que estejam em real risco de contaminação.
Um dos motivos são os riscos e efeitos colaterais que a vacina (quíntupla)
desenvolve nesses animais.
E para finalizar:
Não existe um único
protocolo vacinal ou uma receita que deve ser seguida para em todos os animais.
Sobre a raiva, que nem discutimos nesse post, é exigência
do ministério da saúde e agricultura que os animais sejam revacinados
anualmente, por isso não vamos discutir o que é lei.
Sobre quando iniciar o esquema vacinal, também deve ser determinado o histórico
de amamentação do filhote e a quais doenças o animal poderá ser exposto para
somente assim decidir qual vacina e quantas doses devem ser realizadas.
Além disso, somente animais saudáveis devem receber a vacinação: a
maioria das vacinas são produzidas com vírus mortos que necessitam de um
adjuvante para estimular o inicio da resposta imune vacinal. Portanto se o gato
apresenta qualquer doença concomitante, infestação de parasitas (pulgas,
vermes) ele não vai responder adequadamente a vacinação. Uma vacina mal aplicada ou em momento errado pode fazer com que o animal fique doente ou mesmo venha a óbito!
Ainda sobre a polemica questão sobre se os animais devem realmente ser vacinados anualmente: A minha opinião é de que somente temos o controle dos
produtos que estão dentro das nossas clinicas sob a nossa supervisão de
armazenamento e temperatura. Desde a saída do distribuidor da vacina até a
chegada ao consultório, tempo e temperatura adequada de conservação não se tem
controle ou mesmo fiscalização. Além disso, o estado de saúde do animal exame
clinico prévio e modo de aplicação interferem, e muito! na resposta do animal a
vacinação.
Em nosso pais é falha a fiscalização, onde “qualquer um” aplica vacina
em qualquer lugar, de qualquer jeito e em qualquer balcão. Portanto se “vacina muito” para garantir que uma dose ao
menos seja efetiva.
É um desabafo de quem leva a saúde dos animais a serio e minha opinião!
Se o animal é tratado como um membro da família, ele deve e merece ser atendido
por um médico de verdade!
Imagens fonte:
AUGUST, J.R.; BAHR, A. Calicivirus: Spectrum of disease. In: AUGUST, J.R. Consultations in feline internal medicine. Elsevier
Inc. 2006, 5 ed, p. 3-9.
AUGUST, J.R.; BAHR, A. Calicivirus: Spectrum of disease. In: AUGUST, J.R. Consultations in feline internal medicine. Elsevier
Inc. 2006, 5 ed, p. 3-9.
Por: M.V. Vanessa Zimbres
CRMV/SP 19.672
Especializada em Medicina Felina pela Anclivepa/SP - Universidade Anhembi Morumbi - 2009
Especializada em Medicina Felina pelo Instituto Qualittas Campinas / SP - 2015
Sócia proprietária da Clinica de Medicina Felina Gato é Gente Boa! em Itu/SP